8 de abril de 2013

Professor na França tem que ter mestrado


Não estou tratando do ensino superior! O professor do ensino primário e secundário na França tem que possuir o diploma de mestre, obtido em curso de dois anos. A decisão, de 2008, foi implantada em julho de 2010.
Para alguns, a iniciativa deve-se ao péssimo desempenho dos Institutos Superiores de Formação de Mestres (IUFM), na função desde 1990. Para outros, trata-se de orientação da União Europeia – a mastérisation dos professores. Juliette Vincente e Céline Martelet, por outro lado, revelam a possibilidade de o governo ter economizado 30.000 vagas de estágio docente remunerado, ocupadas por egressos dos IUFM (http://www.rmc.fr/editorial/49853/sarkozy-enterre-liufm/).
Quem tem razão não sabemos – quem sabe todos? Mas entre os que comemoram a “extinção branca” dos IUFM estão as universidades clássicas. Elas perdem um concorrente e saboreiam a vitória dos seus cursos tipicamente acadêmicos – predominantemente carregados com material produzido pela pesquisa de ponta que pode encontrar correspondente direto ou indireto nas disciplinas escolares da educação básica. (No Brasil, e para o curso de História, poderíamos citar as matérias “epistemológicas” – Teoria da História, Metodologia da Pesquisa – e as “de conteúdo” – História do Brasil e História da América).
Como ficou então a formação docente depois de 2010? O percurso agora caracteriza-se por uma licenciatura de três anos e o master dois anos.
No IUFM de Paris (I, IV, VII – 2012/2013) o master de História e Geografia é ofertado mediante conférences mutualisées e cours magistraux (conferências proferidas por vários professores e aulas expositivas) sobre Geografia geral, da França e dos conflitos, Ensino e Aprendizagem da História e da Geografia, Epistemologia da História e da Geografia, Novas Tecnologias e História e Geografia, Orientações sobre os conteúdos do exame nacional de admissão à carreira docente, módulos opcionais sobre História da Arte, e Estágios de prática docente e de observação da prática docente, desenvolvidos durante duas semanas, em cada ano do mestrado. (Cf. http://portail.paris.iufm.fr/).
Este programa é suficiente para melhor qualificar o professor francês?
Para Ptrick Rayou (2011), professor de ciências da educação da Universidade Paris-VIII, a mastérisation separa ainda mais as possibilidades de diálogo entre os saberes acadêmicos e os saberes profissionais específicos da docência – adquiridos via pesquisa educacional e prática de ensino no interior das escolas. Ele sentencia: “A justaposição de uma lógica de concurso e de uma lógica de pesquisa amplia ainda mais a carga de trabalho dos candidatos sem criar condições para a circulação entre os universos da teoria e da prática”.
Sabemos que a França está bem longe daqui e a sequenciação licenciatura-mestrado-exame não se reproduz entre nós. No entanto, as experiências narradas estimulam a refletirmos sobre a função e a natureza dos nossos mestrados profissionais, o uso das 400 horas de estágio de prática ensino e os desdobramentos do futuro Exame Nacional da Carreira Docente sobre a formação inicial.
Os mestrados profissionais são embrionários. Na UFS, por exemplo, não há um mestrado voltado para o ensino. Algumas iniciativas fora de Sergipe, infelizmente, tentam reproduzir o desenho do mestrado acadêmico, mantendo a hegemonia da pesquisa de ponta e a olímpica distância com o universo da escola.
As 400 horas para a prática docente (2001) são um estorvo para formadores públicos, uma vez que todo tipo de argumento é aventado para o seu não cumprimento: os alunos trabalham tempo integral, escolas não oferecem vagas, os formadores são incompetentes para a função, estágio não dá prestígio, etc.
Quanto ao Exame Nacional da Carreira Docente (ENCD), o governo ensaia lançá-lo há três anos. Se sair no governo Dilma, se “pegar”, como “pegou” o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), se equilibrar os componentes da formação, se houver muita nota baixa e, ainda, se Jornal Nacional puser em manchete os resultados – “Exclusivo: a formação inicial nas universidades brasileiras não ensina a ensinar!” –, é provável que soframos uma pressão por parte dos graduandos, pais de alunos e, até, dos sindicatos de professores no sentido de reformular os desenhos curriculares, pondo em diálogo os saberes acadêmicos e os saberes e fazeres necessários à ação docente no cotidiano das salas de aula.
...Mas é muito “SE” para aguardar. Não acham?

7 de abril de 2013

Quem não quer estudar na UFS?

Começou esta semana a matrícula dos 1.364 excedentes da UFS, aprovados do ENEM 2013. A convocatória cumpre a rotina de preencher as vagas e faz a festa de muitos candidatos. Para nós, entretanto, é motivo de reflexão e estudo, pois dá pistas sobre aquele aluno que desistiu estudar na UFS, antes mesmo de matricular-se.
Quem não quer estudar na UFS candidatou-se, em primeiro lugar, ao Campus de Lagarto, que apresenta a maior taxa de desistência (42%). Depois vêm os campi de São Cristóvão e de Aracaju – Campus da Saúde (26%) – e de Laranjeiras (24%). Os números de Lagarto chamam a atenção. Porém, no total de vagas ofertadas pela Universidade, essa desistência representa apenas 3% de não preenchimento na primeira chamada.
Considerando a natureza dos cursos, constatamos que as licenciaturas apresentam as menores taxas de absenteísmo na matrícula (15%), quando comparados aos bacharelados ou “formações” (29%). Esses dados não muito discrepantes, entretanto, ganham outra dimensão quando lembramos que os aprovados e não matriculados nas licenciaturas representam apenas 4% no total de aprovados no ENEM 2013, contra 21% referentes aos aprovados nos demais cursos de graduação.
Detalhando melhor a situação desses cursos que não se destinam à formação de professores, veremos que, em números absolutos, 1130 aprovados não fizeram a matrícula institucional. As engenharias Ambiental, Elétrica, Civil e Mecânica, juntamente com os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Geologia e Medicina tiveram os mais altos números – cerca de 50% ou mais que isso. O destaque é para a Medicina, onde a taxa chegou aos 73%. Nesse caso, os números são muito parecidos, tanto para o Campus de Lagarto (71%) quanto para o Campus de Aracaju (77%).
Em relação à formação de professores, constatamos que os cursos de Letras Português-Francês, Inglês noturno, Espanhol, Química noturno, Geografia, Música e Ciências Biológicas não têm com o que se preocupar, pois as taxas de não matrícula não ultrapassam os 13%. Mas em Filosofia, Matemática, História, Dança, Educação Física diurno, Pedagogia, Português-Inglês diurno, os números ficam entre os 22% e 33% de absenteísmo – Filosofia (33%) e Matemática (31%) estão à frente do grupo.
Esse rápido inventário não revela as razões do absenteísmo, por exemplo: as taxas foram ampliadas, reduzidas ou estabilizadas? É difícil responder, simplesmente porque o ENEM é o fato novo e o exame de séries históricas deve considerá-lo. Seria prudente, portanto, aguardar os dados de 2014.
Qual o perfil do aluno pós-ENEM 2013? Essa é outra indagação sem resposta, por enquanto. É necessário aguardar a matrícula de Itabaiana e o resultado da convocação anunciada na última quarta-feira para concluir sobre sua renda, gênero, grupo étnico, naturalidade e local de residência.
Os obstáculos heurísticos à elaboração de perfis e generalizações sobre o nosso futuro aluno, entretanto, não nos impedem de formular hipóteses. E elas são de todo gênero. Descontadas as eventuais fatalidades, a recusa à matrícula é explicável por flutuações do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do MEC, criação de novos cursos, desprestígio social de algumas carreiras e até flutuações conjunturais do mercado local.
O próprio Reitor, Ângelo Antoniolli, aconselhou cautela na interpretação dos resultados do ENEM: “após o término das matrículas, muitos dos aprovados na primeira lista, que fizeram o vestibular em outros estados, podem optar por ficar em uma instituição próxima à região onde moram” (Cinform, 18-24/02/2013). E foi, exatamente, o que aconteceu, por exemplo, com as vagas dos cursos de Medicina em Aracaju e Lagarto.
Ainda que a Medicina atraia mais a atenção dos letrados sergipanos, interessam-nos também as taxas das engenharias. Qual a razão para o alto absenteísmo na matrícula? E sobre as licenciaturas, o que explica o curso de Pedagogia na lista dos mais reticentes à matrícula? Será que se encerrou o ciclo virtuoso das licenciaturas, anunciado pelo prof. Josué Subrinho, em 1999 (Informe UFS, 10/02/1999)?
Esperemos, então, o resultado final das matrículas, inclusive do Campus de Itabaiana, para apresentar respostas seguras sobre os que rejeitaram a UFS como escola e, mais importante, as prováveis causas que os levaram a tomar esta decisão.
Pode parecer um estranho exercício, esse. Mas, as negativas também ajudam a avaliar a expansão em processo e a constituição dos nossos projetos pedagógicos.