7 de abril de 2013

Quem não quer estudar na UFS?

Começou esta semana a matrícula dos 1.364 excedentes da UFS, aprovados do ENEM 2013. A convocatória cumpre a rotina de preencher as vagas e faz a festa de muitos candidatos. Para nós, entretanto, é motivo de reflexão e estudo, pois dá pistas sobre aquele aluno que desistiu estudar na UFS, antes mesmo de matricular-se.
Quem não quer estudar na UFS candidatou-se, em primeiro lugar, ao Campus de Lagarto, que apresenta a maior taxa de desistência (42%). Depois vêm os campi de São Cristóvão e de Aracaju – Campus da Saúde (26%) – e de Laranjeiras (24%). Os números de Lagarto chamam a atenção. Porém, no total de vagas ofertadas pela Universidade, essa desistência representa apenas 3% de não preenchimento na primeira chamada.
Considerando a natureza dos cursos, constatamos que as licenciaturas apresentam as menores taxas de absenteísmo na matrícula (15%), quando comparados aos bacharelados ou “formações” (29%). Esses dados não muito discrepantes, entretanto, ganham outra dimensão quando lembramos que os aprovados e não matriculados nas licenciaturas representam apenas 4% no total de aprovados no ENEM 2013, contra 21% referentes aos aprovados nos demais cursos de graduação.
Detalhando melhor a situação desses cursos que não se destinam à formação de professores, veremos que, em números absolutos, 1130 aprovados não fizeram a matrícula institucional. As engenharias Ambiental, Elétrica, Civil e Mecânica, juntamente com os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Geologia e Medicina tiveram os mais altos números – cerca de 50% ou mais que isso. O destaque é para a Medicina, onde a taxa chegou aos 73%. Nesse caso, os números são muito parecidos, tanto para o Campus de Lagarto (71%) quanto para o Campus de Aracaju (77%).
Em relação à formação de professores, constatamos que os cursos de Letras Português-Francês, Inglês noturno, Espanhol, Química noturno, Geografia, Música e Ciências Biológicas não têm com o que se preocupar, pois as taxas de não matrícula não ultrapassam os 13%. Mas em Filosofia, Matemática, História, Dança, Educação Física diurno, Pedagogia, Português-Inglês diurno, os números ficam entre os 22% e 33% de absenteísmo – Filosofia (33%) e Matemática (31%) estão à frente do grupo.
Esse rápido inventário não revela as razões do absenteísmo, por exemplo: as taxas foram ampliadas, reduzidas ou estabilizadas? É difícil responder, simplesmente porque o ENEM é o fato novo e o exame de séries históricas deve considerá-lo. Seria prudente, portanto, aguardar os dados de 2014.
Qual o perfil do aluno pós-ENEM 2013? Essa é outra indagação sem resposta, por enquanto. É necessário aguardar a matrícula de Itabaiana e o resultado da convocação anunciada na última quarta-feira para concluir sobre sua renda, gênero, grupo étnico, naturalidade e local de residência.
Os obstáculos heurísticos à elaboração de perfis e generalizações sobre o nosso futuro aluno, entretanto, não nos impedem de formular hipóteses. E elas são de todo gênero. Descontadas as eventuais fatalidades, a recusa à matrícula é explicável por flutuações do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do MEC, criação de novos cursos, desprestígio social de algumas carreiras e até flutuações conjunturais do mercado local.
O próprio Reitor, Ângelo Antoniolli, aconselhou cautela na interpretação dos resultados do ENEM: “após o término das matrículas, muitos dos aprovados na primeira lista, que fizeram o vestibular em outros estados, podem optar por ficar em uma instituição próxima à região onde moram” (Cinform, 18-24/02/2013). E foi, exatamente, o que aconteceu, por exemplo, com as vagas dos cursos de Medicina em Aracaju e Lagarto.
Ainda que a Medicina atraia mais a atenção dos letrados sergipanos, interessam-nos também as taxas das engenharias. Qual a razão para o alto absenteísmo na matrícula? E sobre as licenciaturas, o que explica o curso de Pedagogia na lista dos mais reticentes à matrícula? Será que se encerrou o ciclo virtuoso das licenciaturas, anunciado pelo prof. Josué Subrinho, em 1999 (Informe UFS, 10/02/1999)?
Esperemos, então, o resultado final das matrículas, inclusive do Campus de Itabaiana, para apresentar respostas seguras sobre os que rejeitaram a UFS como escola e, mais importante, as prováveis causas que os levaram a tomar esta decisão.
Pode parecer um estranho exercício, esse. Mas, as negativas também ajudam a avaliar a expansão em processo e a constituição dos nossos projetos pedagógicos.

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