Começou esta semana a matrícula dos 1.364
excedentes da UFS, aprovados do ENEM 2013. A convocatória cumpre a rotina de
preencher as vagas e faz a festa de muitos candidatos. Para nós, entretanto, é
motivo de reflexão e estudo, pois dá pistas sobre aquele aluno que desistiu estudar
na UFS, antes mesmo de matricular-se.
Quem não quer estudar na UFS candidatou-se, em
primeiro lugar, ao Campus de Lagarto,
que apresenta a maior taxa de desistência (42%). Depois vêm os campi de São Cristóvão e de Aracaju – Campus da Saúde (26%) – e de Laranjeiras
(24%). Os números de Lagarto chamam a atenção. Porém, no total de vagas
ofertadas pela Universidade, essa desistência representa apenas 3% de não preenchimento
na primeira chamada.
Considerando a natureza dos cursos, constatamos que
as licenciaturas apresentam as menores taxas de absenteísmo na matrícula (15%),
quando comparados aos bacharelados ou “formações” (29%). Esses dados não muito
discrepantes, entretanto, ganham outra dimensão quando lembramos que os
aprovados e não matriculados nas licenciaturas representam apenas 4% no total
de aprovados no ENEM 2013, contra 21% referentes aos aprovados nos demais
cursos de graduação.
Detalhando melhor a situação desses cursos que não
se destinam à formação de professores, veremos que, em números absolutos, 1130
aprovados não fizeram a matrícula institucional. As engenharias Ambiental,
Elétrica, Civil e Mecânica, juntamente com os cursos de Arquitetura e Urbanismo,
Geologia e Medicina tiveram os mais altos números – cerca de 50% ou mais que
isso. O destaque é para a Medicina, onde a taxa chegou aos 73%. Nesse caso, os
números são muito parecidos, tanto para o Campus
de Lagarto (71%) quanto para o Campus
de Aracaju (77%).
Em relação à formação de professores, constatamos
que os cursos de Letras Português-Francês, Inglês noturno, Espanhol, Química
noturno, Geografia, Música e Ciências Biológicas não têm com o que se
preocupar, pois as taxas de não matrícula não ultrapassam os 13%. Mas em
Filosofia, Matemática, História, Dança, Educação Física diurno, Pedagogia,
Português-Inglês diurno, os números ficam entre os 22% e 33% de absenteísmo –
Filosofia (33%) e Matemática (31%) estão à frente do grupo.
Esse rápido inventário não revela as razões do
absenteísmo, por exemplo: as taxas foram ampliadas, reduzidas ou estabilizadas?
É difícil responder, simplesmente porque o ENEM é o fato novo e o exame de
séries históricas deve considerá-lo. Seria prudente, portanto, aguardar os
dados de 2014.
Qual o perfil do aluno pós-ENEM 2013? Essa é outra
indagação sem resposta, por enquanto. É necessário aguardar a matrícula de
Itabaiana e o resultado da convocação anunciada na última quarta-feira para
concluir sobre sua renda, gênero, grupo étnico, naturalidade e local de
residência.
Os obstáculos heurísticos à elaboração de perfis e
generalizações sobre o nosso futuro aluno, entretanto, não nos impedem de
formular hipóteses. E elas são de todo gênero. Descontadas as eventuais fatalidades,
a recusa à matrícula é explicável por flutuações do Sistema de Seleção
Unificada (Sisu) do MEC, criação de novos cursos, desprestígio social de
algumas carreiras e até flutuações conjunturais do mercado local.
O próprio
Reitor, Ângelo Antoniolli, aconselhou cautela na interpretação dos resultados
do ENEM: “após o término das matrículas, muitos dos aprovados na primeira
lista, que fizeram o vestibular em outros estados, podem optar por ficar em uma
instituição próxima à região onde moram” (Cinform,
18-24/02/2013). E foi, exatamente, o que aconteceu, por exemplo, com as vagas
dos cursos de Medicina em Aracaju e Lagarto.
Ainda que a Medicina atraia mais a atenção dos
letrados sergipanos, interessam-nos também as taxas das engenharias. Qual a
razão para o alto absenteísmo na matrícula? E sobre as licenciaturas, o que
explica o curso de Pedagogia na lista dos mais reticentes à matrícula? Será que
se encerrou o ciclo virtuoso das licenciaturas, anunciado pelo prof. Josué
Subrinho, em 1999 (Informe UFS, 10/02/1999)?
Esperemos, então, o resultado final das matrículas,
inclusive do Campus de Itabaiana,
para apresentar respostas seguras sobre os que rejeitaram a UFS como escola e,
mais importante, as prováveis causas que os levaram a tomar esta decisão.
Pode parecer um estranho exercício, esse. Mas, as
negativas também ajudam a avaliar a expansão em processo e a constituição dos
nossos projetos pedagógicos.
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